Scott Supertrac Ultra RC – Traction Matters

Bem isto já tem tanto tempo sem fazer uma review que nem sei por onde começo, mas ok, vamos lá ver o que sai daqui.
As Scottt Supertrac Ultra RC são as sapatilhas de competição da Scottt destinadas a ultra distâncias. Desenvolvidas pela Scott em conjunto com os atletas da marca e com a colaboração da Universidade Técnica de Munique, onde foram realizados os testes de tracção em laboratório. O objectivo da marca ao desenvolver as Scott Supertrac Ultra RC foi criar umas sapatilhas que possuíssem uma boa tracção nos mais variados tipos de terreno, e que fossem estáveis e confortáveis, já que depois de passar umas horas a correr, o conforto torna-se um factor chave em qualquer sapatilha.

Nomes e números das Scott Supertrac Ultra RC

Peso: 340 gs (tamanho 43)
Drop: 8mm
Espessura dos tacos da sola: 6mm
Sola: All Terrain Traction, sola criada para ter tracção em terreno mole húmido, assim como em pisos técnicos
eRide: Tecnologia da Scott que consiste num rocker elevado na frente e traseira de forma a proporcionar uma transição da passada mais suave e dinâmica
Schoeller-Dynamic: Tecido técnico, algo rugoso, bastante elástico e resistente, e que apesar de não ser impermeável, repele bastante bem a água
AeroFoam+: Tecnologia da meia-sola que tem por objectivo tornar as sapatilhas confortáveis e estáveis, e ao mesmo tempo, dinâmicas e com um bom retorno

Digam lá que não são lindas?

Primeiras impressões

“Uiiiii, estas coisas são lindas!!!! E têm um ar reles!!!” As minhas são as pretas e vermelhas, mais discretas, mas tão bonitas como as que têm o padrão clássico de cores da Scott RC, preto e amarelo. O tecido do upper, o famoso Schoeller-Dynamic, dá-lhes um aspecto bastante robusto, quase bota de trekking, e a protecção de borracha a toda a volta acentua a aparência robusta. A sola é diferente de tudo o que estamos acostumados numa sapatilha para ultra distância, com tacos grandes e em forma de seta. A meia sola expande lateralmente para fora, para dar um pouco mais de estabilidade, ao que consta. A língua é bastante fina, apenas ligeiramente almofadada no topo, o que me suscitou algumas dúvidas se me iria proteger do aperto dos atacadores. A palmilha não podia ser mais simples, da própria marca, sem espessura considerável nem tratamentos especiais, pelo menos anunciados.

A forma é estreita, mas o espaço para os dedos é suficiente.

Ajuste e conforto:

Ao calçá-las a primeira vez nota-se a forma mais estreita já que são umas sapatilhas projectadas para competição, mas nunca me faltou espaço para os dedos. Aliás, o primeiro par que tive, experimentei o 42,5, em vez do 43 que normalmente uso – na Maratona do MIUT o meio número abaixo fez os seus estragos no dedo mindinho. Uns dias mais tarde vi-me forçado a trocá-las devido a um problema que descrevo mais à frente, e experimentei o 43… foi logo outra coisa, a forma continuava a ser estreita, mas o espaço para os dedos era completamente diferente. Para mim, o fit perfeito é o 43, o número que normalmente uso. Em relação ao ajuste, o tal de Schoeller-Dynamic faz bem o seu papel, porque mesmo sem bandas de reforço no upper, as Scott Supertrac Ultra RC ajustam-se ao pé que nem uma luva. A língua aqui, mesmo sendo fina, funciona perfeitamente, e nunca os atacadores magoaram-me o peito do pé, mesmo estando bastante apertados.

Mesmo meio número abaixo, no MIUT 2019 portaram.se lindamente – Foto: José Ricardo

Estas são umas sapatilhas muito confortáveis, a sensação é de quase maximalismo, mas com muito dinamismo. Aliás, em 2019 fiz a Maratona do MIUT com elas, e mesmo sendo o 42,5 cheguei ao fim com os pés menos massacrados do que no ano anterior em que fiz a prova de Hoka Speedgoat 2 (43). Se não fosse o dedo mindinho esfolado, teria acabado com os pés imaculados. O drop de 8mm é conservador. Pessoalmente prefiro um drop mais baixo, mas neste caso funciona bastante bem, e talvez por causa do eRide, nunca senti que estivesse a aterrar demasiado com o calcanhar, mesmo quando estava mais cansado.

Bem protegidas a toda a volta, o upper Schoeller-Dynamic é bastante resistente para além de repelir bem a água.

Protecções:

O upper feito de Schoeller-Dynamic, um tecido como já disse, elástico, grosso, e até algo tosco, faz um trabalho brilhante em me proteger da água. Não é impermeável, mas repele muito bem a água, e em nenhuma altura senti os pés molhados, nem à chuva nem ao passar pela vegetação molhada pelo sereno. Não testei atravessar nenhuma ribeira. Fica para a próxima.

Mesmo com chuva e molhadas por fora, o upper das Scott Supertrac Ultra RC mantém os pés secos.

A borracha que envolve toda a parte inferior do upper e a biqueira faz um trabalho muito bom em proteger os pés dos elementos externos. Sei do que falo porque de vez em quando gosto de acertar numa pedra ou outra, o que já me fez soltar algumas palavras mais rudes, e se calhar ofensivas para a família das ditas pedras. A altura da meia sola aliada aos 6 mm de espessura dos tacos também nos protege das rochas e dos troncos mais afiados que possamos encontrar nos trilhos.

Esta sola sente-se muito à vontade em terrenos lamacentos.

Sola (tracção e agarre):

A sola é composta por tacos em forma de seta de 6mm – direccionados para a frente na parte frontal até o meio da sola, para facilitar a tracção, – e do meio para o calcanhar, setas direcionadas para trás, para facilitar a travagem. Ainda na frente e nas laterais, as “setas” são posicionadas para fora, ajudando no agarre lateral.

A tracção proporcionada pela sola é simplesmente brutal. Em terreno seco, molhado, compacto, solto, as Scott Supertrac Ultra RC não fazem grande distinção do piso e portam-se bem em cima de quase tudo por onde passarmos. Especial menção para o comportamento em lama, os tacos de 6mm permitem uma tracção e agarre só comparável, a meu ver, às Altra King.

Em relação ao agarre, estas sapatilhas não são para quem gosta de travar, porque em travagem não se comportam tão bem como em arranque, especialmente em rocha molhada e cerro. A solução é evitar travar nesses pisos, porque se travarmos podemos apanhar algum susto, especialmente se estivermos habituados a solas tipo Vibram.

O Menos Bom:

O primeiro par de Scott Supertrac Ultra RC que recebi, para além de serem meio número abaixo (culpa minha) tiveram o problema de abater na parte interior, ficando bastante tortas em relação ao eixo vertical. Falei com o vendedor que por sua vez expôs o problema à Scott Portugal. A Scott colocou a hipótese do problema ter acontecido devido à minha passada, que possa ser prosadora, mas prontificou-se a substituir as sapatilhas. Defeito ou não, o certo é que o novo par não desenvolveu o mesmo problema. Ou melhor, desenvolveu um pouco, mas dentro do razoável, e penso que não interfere em nada a performance das sapatilhas.

Conclusão:

Lindas, confortáveis, tracção brutal, agarre bastante razoável. A Scott com as Supertrac Ultra RC preencheu um lacuna que tinha na sua gama RC a ultra distância. E para uma primeira experiência, não se saíram nada mal. Nada mal mesmo!!!!

Aqui fica a opinião de três atletas de trail aos quais agradeço imenso a disponibilidade para colaborarem nesta review e a quem peço desculpa pela demora. Muito Obrigado!

Goreti Correia – EDV Viana Trail

 

Inicialmente, ao calçar as Scott Supertrac Ultra RC, pareciam duras e de perfil médio. No entanto, moldaram-se muito bem ao pé, garantindo conforto pleno. São resistentes e bastante adaptáveis a todos os tipos de trilhos técnicos. Possuem boa aderência e estabilidade.
Esteticamente acho que são muito bonitas, pois gosto de sapatilhas robustas. O único defeito que encontro, é serem um pouco quentes, no verão.

 

Énio Castro – Madeira Medical Centre

Primeira impressão das Scott são das sapatilhas mais lindas que algumas vez tive, com um traçado que inspira a garra e a velocidade.
Ao colocar no pé, sentimos logo que a velocidade foi um dos objectivos para qual foram criadas com a sua leveza e para desafios onde tens muito para rolar.
Juntamente com o seu conforto para aguentar muitos km com elas nos pés. Se procuras umas sapatilhas de trail bonitas, confortáveis e leves tens a opção acertada.
A nível de sola, estáveis. Em comparação com outras sapatilhas em piso, como rocha vermelha molhada escorrega um pouco, mas como nos desafios aqui na Madeira, este tipo de pedra não é muito comum na nossa natureza, serão sempre uma boa escolha.
Pede sempre um número acima do que costumas calçar, devido à parte da frente afunilar, poderá apertar um pouco.

Cassiano Figueira – ADRAP

Scott Supertrac Ultra RC, tenho uma opinião muito boa até agora depois de 313km já feitos com elas estou satisfeito.
Têm um bom amortecimento, muito boa aderência em quase todas as superfícies. Em certas zonas molhadas tipo rocha e cerro, a coisa complica um pouco mas nada que não se passe. É preciso acreditar que vai dar certo.
A nível de distância. Para quem é leve podem ser boas para longas distâncias.
Podem ter um bom amortecimento ainda no final.
Para quem sempre andou com sola vibram e hokas, arrisquei, e não me arrependo.
Para quem sofre de tornozelos “articulações” não são os melhores tenis… Não são tão estáveis.

Resta-me agradecer mais uma vez à Goreti, ao Énio e ao Cassiano pela disponibilidade 🙂

Alexandre Vieira

alex@aguentaquevai.com