Santana SVK – Como carregar 99K montanha acima!!

Depois de no ano passado não ter podido ir a Santana devido a lesão, este ano queria participar nestas duas provas que eram uma completa novidade para mim, o SVK (Santana Vertical Kilometer) e a Mini Sky Race, apesar de ter andado a lutar com uma tendinite rotuliana desde antes do MIUT. Mas com a ajuda da Ana Castro, da MH Bem-Estar, com as suas agulhas “mágicas” e, numa segunda fase, da Ana Almeida e do Raul da Fisiokorpus, as coisas pareciam estar a encarrilhar. Assim, lá ia eu subir a montanha, com peso a mais e preparação a menos. Mas com toda a vontade de chegar ao topo.

Os dias anteriores à prova foram passados entre sessões de fisioterapia e massagem, não ficando muito tempo para correr. Em duas semanas, depois do Km Vertical da Tabua, apenas fiz uma corridinha leve, para ver como sentia o joelho. Estava a aguentar-se, sem dores de maior, o que serviu para aumentar a minha confiança para prova. 

Foto: Filipe Belo

A preparação para o fim de semana de correrias foi a normal, batata doce a todas as refeições e tentar dormir bem (mesmo à atleta). Não havia tempo para muito mais! Meteste-te agora aguenta!

Como não conhecia o percurso do Km Vertical, e sabendo pelo relatos de outros atletas que a parte final do mesmo era muito inclinada, estava indeciso entre levar ou não bastões. Acabei por leva-los e também o cinto da ArchMax, de modo a que, quando chegasse à parte mais inclinada pudesse recolher os bastões e guardá-los no cinto. Para isso ajudou o input do Nuno Margarido a quem telefonei uns dias antes da prova. 

Foto: Dinarte Jesus – Madeira Trail Tours

Dia de Km Vertical

Acordei cedinho, duche e pequeno-almoço (outra vez batata doce). Verifiquei o material para a prova (dorsal, cinto e bastões) e preparei isotónico para ir tomando até ao início da prova. Hora de sair, dou um beijinho à Carina que me deseja boa sorte e meto-me no carro em direcção ao Restaurante da Quinta do Furão, onde os atletas deveriam se concentrar e apanhar os autocarros para o ponto de partida. Como saía no “grupo da frente” o meu autocarro era o primeira a sair, por isso tentei chegar cedo. Como sempre, ou quase sempre, fui dos primeiros a chegar, ainda faltando uma meia hora para a saída do autocarro. Fiquei dentro do carro, a hidratar-me com isotónico e a comer uma comida de bebé.

Estava na hora e siga para o autocarro, onde encontrei o Nuno Margarido que foi me explicando o percurso com mais pormenor. Há medida que ele ia explicando, entre subir trilhos e degraus e uma “parede” no final, só pensava: “Oxalá não seja a Vereda da Ilha”. Não tinha muito boas recordações da Vereda da Ilha, ou melhor, os meus joelhos não tinham saudades nenhumas daquele quantidade enorme de degraus. 

Foto: Jessie Serrão

Chegados ao fim do percurso de autocarro, o Nuno deu-me a primeira novidade do dia “Agora temos de subir uns dois quilómetros até começar o Km Vertical”. “Diacho, grande aquecimento que este vai ser”: pensei eu. Lá fomos subindo o trilho e eu sempre com a esperança que não fosse a Vereda da Ilha. Primeiro cruzamento e pimba. Não é que é mesmo a Vereda da Ilha? Lá me vieram as recordações de descer aqueles degraus desde a Achada do Teixeira, com a Carina, a Paula e o Amaro. Tinha os joelhos a latejar e ainda por cima ver a Carina a saltitar de degrau em degrau toda contente (como é bom ser levezinho exclamei eu na altura).

Foto: Jessie Serrão

A meio do “aquecimento” que fiz juntamente com o Nuno, ainda fomos ultrapassados por dois espanhóis que pareciam que já estavam em prova, tanta era a vontade por lá acima.

Finalmente, 1,9Km depois estávamos na pré-partida. Sim tivemos uma pré-partida, 2 minutos e 100 metros antes da partida propriamente dita. Foram nos chamando por ordem de saída e às 9:12 chegou a minha vez. Os 100 metros até à partida foram feitos descontraidamente, não estava nervoso nem ansioso, o que era um bom sinal. 

Foto: Lia Fernandes

9:14 e lá vou eu, o mais rápido que conseguia, ou seja lentamente, e já com a preocupação de dar passagem de modo a não atrapalhar a prova de ninguém.

A primeira parte da prova correu bem, o percurso não era muito difícil, entre trilhos e degraus, e tinha algumas partes que até eram bastante corríveis. Claro que, se estava plano ali, certamente ia inclinar bastante para o final, mas não ia me preocupar com isso na altura. Fui ultrapassado de toda a maneira e feitio, pela esquerda, pela direita, em terra, em degraus, em pedra, foi um festival de ultrapassagens. Mas estava a me sentir bem, era o que interessava. De qualquer maneira não estava ali para bater recordes. No posto de controlo (onde estava o Belchior que me perguntou que sapatilhas tinha escolhido e se eram boas para aquilo, respondi Altra King e sim, são do melhor para este tipo de provas) informaram-me que faltavam apenas 500 metros de desnível, mas ao menos eram “sempre a subir”. Que alívio!!!!

Foto: Lia Fernandes

Olhei para o relógio, já estava com 52 minutos de prova e tinha percorrido 3Km. Ou seja faltavam 500 metros em 1,8km.

“Vamos lá Alexandre, agora é um instantinho!” – pensei. Despedi-me do pessoal do controlo e segui caminho. A segunda parte da prova não tem muito de história, mais degraus, mais rocha, mais ultrapassagens, até encontrar o Robert e a Jessie, que me deram força, e que bem que soube ouvir um incentivo naquela altura, obrigado. Nesse ponto pensei “se eles desceram até aqui, a Achada do Teixeira não deve estar muito longe”. Esse pensamento, aliado ao barulho de pessoas e dum badalo relativamente perto deram-me outro ânimo e, como a partir da Achada do Teixeira não iria usar os bastões e esta estava “tão perto”, resolvi, erradamente, guardar os bastões e fazer o resto do percurso sem eles. Nunca o perto me pareceu tão longe, e entre ouvir os incentivos e lá chegar, demorei uns 10 minutos, a sofrer e com os bastões guardados no cinto. Mas lá cheguei, ao spot onde estava a Carolina com o badalo a incentivar os atletas, grande barulheira, obrigado Carolina. “A partir daqui só falta a tal parede, 100 metros não devem ser nada do outro mundo”. 

Foto: Ricardo Moreira

Mas que MARTELADA!!!!!! Esses últimos 100 metros foram a pior coisa que subi em toda a minha vida, uma inclinação brutal, terminando numa rocha que tinha de ser trepada com a ajuda de cabos e só depois a tão almejada meta. Aqui vivi um dos momentos mais bonitos de toda a minha vida de trailer, com todo o pessoal a gritar e a apoiar, em todas as línguas. Ouvi de tudo, desde “Não pára que é pior”; “Andale, vamo-nos”; “Allez allez Alexandre”; “Go go go!”. Foi simplesmente fantástico. Sensivelmente a meio da subida estava João Miguel, que ainda me deu um “empurrãozito” quando as pernas já não queriam ir, e a cabeça também não estava para lá virada (obrigado João). Mais acima fui ultrapassado por uma das atletas da Scott que trazia uns bastões curtinhos (talvez com 90cm) que se revelaram uma grande ajuda para aquela inclinação pelo que vi, porque ela estava a subir aquilo como se não houvesse amanhã. Ainda tenho de experimentar uns bastões assim curtos nas subidas mais inclinadas.

Se não fosse o empurrãozinho… nem sei – Obrigado João

E lá cheguei aos últimos metros da corrida, entre eu e a meta estava apenas um pequena (enorme) rocha que era preciso escalar com a ajuda de cabos. Ainda fiquei “pendurado” no cabo devido à perna ter cedido quando me apoiei, mas com a ajuda do elemento da segurança, que lá estava também pendurado por um cabo, lá subi e apenas fiz um arranhão no braço.

Foto: Aurélio Davide

Mais uns metros e… FINALMENTEEEEEE. Estava feito o Santana Vertical Kilometer. Fui cumprimentado pelo Ricardo, pela Nélia e demais presentes e fui à procura duma pedra para me sentar e recuperar o fôlego. Passou o Telmo e deu-me uma garrafa de água, que desapareceu num abrir e fechar de olhos. Estava na hora de ir até à Achada do Teixeira comer qualquer coisa e receber a massagem a que tinha direito, porque o dia seguinte prometia ser igualmente duro.

Foto: Ricardo Moreira
Foto: Aurélio Davide

Alexandre Vieira