Dynafit Feline Ultra – umas todo-o-terreno de luxo!!!!

“Vais usar isso para correr na serra?” – Estas foram as palavras dum colega meu quando tirei as Dynafit Feline Ultra da caixa e mostrei ao pessoal lá no trabalho. E… tenho de confessar que cheguei a pensar que era uma consciência metê-las na terra. Chego a casa e mostro-as à Carina e a reacção foi: “Uiiiiii… suaves”. Ohhh diabo, daqui a nada vou me sentir culpado, pela primeira vez, de sujar umas sapatilhas.

Realmente as Feline Ultra são umas sapatilhas “requintadas”, muito ao estilo Range Rover, com estofos de cabedal pontilhados à mão, ar condicionado, volante aquecido e mais uma meia dúzia de luxos, mas que quando é preciso metê-las fora da estrada, não envergonham ninguém. E quanto pior o terreno, melhor elas se portam.

Mas vamos ao que interessa… nomes e números

Adaptive Grid – Grelha em plástico que envolve os lados da sapatilha, dando-lhe resistência e respirabilidade.

Form Fitted Upper e Sensitive Fit + – Máxima protecção e ajuste ideal de modo a abraçar o meio pé mas deixando espaço suficiente para uma boa circulação sanguínea.

Duo Motion – Meia sola de EVA de duas densidades para um melhor controlo do movimento.

Ballistic Bumper – Protecção em borracha na zona dos dedos, para dar uma maior protecção.

Vibram Mapping Compound – Sola mapeada, de forma a ter mais durabilidade nas zonas de maior desgaste com Megagrip na zona central.

Peso – cerca de 340 gramas no número 43

Drop – 8mm

Primeiras sensações

À vista – Imponentes como um tanque. São lindas!!! Na minha opinião são talvez das mais bonitas sapatilhas de trail que andam por aí. E são das que não me importo nada de andar a passear “à civil” com elas.

Ao toque – Os materiais que a Dynafit usou nas Feline Ultra são realmente do melhor que há. A sensação é de estar a tocar numa sapatos de camurça ou algo do género. Nada do que se está à espera numa sapatilha de ir para a serra. Como bem disse a Carina “Uiiii… suaves”.

No pé – O fit é excelente, confortável e bastante ajustado no calcanhar e no meio do pé. Aqui é que se notam os efeitos do Form Fitted Upper e do Sensitive Fit +, o pé fica bastante preso, dando a sensação que nada o fará se mover. Contudo os dedos mexem-se à vontade. A grossura da língua, que mais parece uma almofada, também permite apertar bastante a sapatilha sem se perder conforto ou magoar.

Primeiros passos – Cranc, cranc, cranc… Uiiiii, estas coisas são rijas. Neste caso, a primeira sensação não foi das mais favoráveis, mas melhorou, e bastante. Em relação ao peso, nos pés dão a sensação de serem mais ligeiras do que os 340 gramas cada que efectivamente pesam.

No terreno

Durinhas, esta é a primeira palavra que me ocorre quando penso nas Feline Ultra. Especialmente no início, depois duns quilómetros valentes, a meia sola “amacia” e fica um nadinha mais branda. Aí sim, ficam confortáveis!

O amortecimento delas é relativamente duro, não desconfortável mas durinho, especialmente na frente. A Dynafit lançou uma versão posterior a esta onde colocou umas palmilhas Ortholite, provavelmente mais macias, o que deve ajudar um pouco no amortecimento. Para atletas leves, penso que é adequado, mas para atletas pesados como eu o amortecimento é curto, e isso nota-se nos pés ao fim duns kms, mais na frente. No calcanhar, mesmo sendo duro, o amortecimento é progressivo, abate no contacto com o solo, mas é bastante reactivo e impulsiona-nos para cima logo de seguida.

A “dureza” da meia-sola, aliada à rigidez geral da sapatilha, e ao ajuste no pé ajudam, e bastante, na estabilidade. As Feline Ultra são MUITO estáveis. Nunca senti o risco dum entorse, ou de o pé virar mais do que o recomendado. E, na realidade, diga-se que sou daqueles atletas que muitas vezes não sei nem onde nem de que forma vou colocar os pés, o que tem tendência a dar erro.

Aqui entra outra das qualidades das Feline, as protecções. Uauuuuu…. com estas sapatilhas posso andar a dar pontapés em tudo o que é pedra, e troncos, e outra coisa qualquer que apareça, é igual. Desde a sola ao peito do pé, passando pelos lados, está tudo protegido, bem protegido. Isto é especialmente bom quando já estamos com um monte de kms nas pernas, o discernimento não é o melhor e acabamos a pontapear, sem querer, todas as irregularidades do terreno.

 

Uma palavra sobre a língua — extremamente grossa e almofadada. Como o sistema quick lace é composto por uns cordões bastante resistentes e finos, uma almofada no lugar da língua dá sempre jeito. E podemos apertar o que quisermos, os cordões não “cortam” no meio pé como acontece com algumas sapatilhas mais minimalistas. E podemos jogar ao 31 com as pedras se quisermos, a língua protege muito e bem.

 

O quick lace funciona bem, mas engana. Como quase todos estes sistemas, este tem uma ligeira tendência a alargar. Penso que isso é inevitável. Se é um defeito, sim pode-se dizer que sim, mas ainda não vi um sistema destes que ficasse sempre apertado. De qualquer maneira, nunca senti necessidade de apertar as sapatilhas mais do que uma vez, fosse em prova ou em treino, e isso também pode ser por não ajustá-las quanto isso de início, e quando começam as descidas é que se nota se será preciso algo mais de aperto.

E a sola? A sola é uma das coisas que se destacam nas Feline Ultra, tacos muito grandes e relativamente profundos, todos diferentes. É uma sola de guerra. O seu aspecto bruto de pneu de todo-o-terreno deixa-nos um sorriso na cara. Claro que o logo amarelo da Vibram também ajuda a isso. A Vibram fabricou esta sola para a Dynafit com um composto chamado Mapping Compound, que não é nada mais do que identificar os pontos mais sujeitos a sofrer desgaste na sola e dotá-los com uma borracha mais dura. Assim, a parte central do pé é em Vibram Megagrip, para garantir o máximo agarre possível, à volta e no calcanhar temos o Mapping Compound, que vai endurecendo conforme a zona, de modo a proporcionar mais durabilidade.

Por falar em durabilidade, com mais de 200Km comigo, 20km nos pés do Bruno Dantas e uns 25Km com o Bruno Freitas, a sola está nova. Não fossem os vestígios de terra e diria que saíram da loja agora. Para destruir esta sola vai ser preciso talento, sim sim. O mesmo digo para o resto da sapatilha, depois de limpas parecem novas.

Em relação ao agarre, é o típico da Vibram Megagrip. Excelente em quase todas as situações. Na terra, os tacos grandes fincam no chão e dão-nos muita tracção a subir. A descer, o calcanhar (sim, com um drop de 8mm e a técnica duma velhinha, eu aterro muito com o calcanhar a descer) também faz o seu trabalho na perfeição, dando bastante confiança. Em terreno solto, os tacos duros e a estabilidade geral dão também conta do recado. Podemos escorregar um pedacinho a descer, mas uma derrapagem controlada é sempre bom para o espectáculo. Lama, é sempre um handicap para as solas Vibram, os tacos grandes ajudam a agarrar na lama, e aí, não sendo uma sapatilha especializada para essas condições, até desenrasca-se bem. Mas, como é normal na Vibram, a lama não se solta facilmente, damos umas pancadas no chão, volta tudo ao seu lugar e deixamos a lama para trás. Na rocha molhada e no cerro foi onde senti a maior diferença para as solas constituídas inteiramente por Megagrip. Se o apoio for feito com a parte central da sola, perfeito, agarra a tudo. Se for com o calcanhar ou as partes que não são Megagrip, agarram bem, mas não é o mesmo grip.

Transpirabilidade – com tanto acolchoado, língua e corpo da sapatilha, seria de esperar que fossem quentes e não transpirassem assim tão bem como isso. Nada disso, as Feline Ultra são bastante frescas, de modo que até a aragem da serra sente-se nos pés. Nada que umas meias mais grossas não resolvam no inverno, no verão essa frescura é sempre bem vinda. Quando molhadas, o que já aconteceu mais do que uma vez, secam extremamente rápido, 10 a 15 minutos e já esquecemos que metemos o pé na poça.

Conclusão

As Dynafit Feline Ultra são uma boa aposta para distâncias longas, especialmente para quem necessita de muita protecção e agarre. O à vontade com que enfrentamos os terrenos técnicos com elas é notável e a sensação é que conseguimos passar por cima de tudo, sem temer mazelas de maior. Não são a escolha perfeita para o meu peso e para a minha técnica de corrida, mas por alguma razão volto sempre a escolhê-las e neste momento são as segundas sapatilhas com mais kms que possuo. As recordistas são as Adidas Response TR Boost.

Posso até chegar ao fim com os pés a doer, mas chego numas todo-o-terreno de luxo, com acabamentos de primeira e lindas de morrer!!!!!!

PS – Obrigado ao Bruno Freitas e ao Ricardo Fernandes pelas opiniões, fotos e vídeo – grande abraço

Alexandre Vieira

Opiniões:

Bruno Freitas

O que dizer de umas sapatilhas que são confortáveis mas que não têm conforto?
Primeira sensação quando as calças é que o pé não vai caber. Depois fica o espaço de um dedo à frente.
Sentes pé todo amarrado, seguro, não rola dentro. Parece umas ultra raptor mas melhores.
Em termos de sola, não escorrega nada, à exceção do calcanhar. Muda tua maneira de descer.
A subir como já corro em pontas de pé não altera muito
Pontapés em pedra não sentes nada. E terreno irregular, uii nem um entorse.
Fim de treino sentes o tal desconforto no calcanhar, massacra um pouco.
Eu adorei as meninas